terça-feira, 20 de maio de 2014

SEIA

Município português na regiom da Beira, com cerca de 25.000 habitantes, é um dos territórios em que se situa o ponto mais elevado do Portugal continental.

À época da reconquista cristã, Seia foi definitivamente conquistada aos Mouros polo Imperador Fernando Magno (1055), que determinou a sua fortificaçom. Em 1136 Afonso Henriques concedeu-lhe o primeiro foral, seguindo-se o de D. Afonso II (1217), o de D. Duarte (1433), o de Afonso V (1479) e o de D. Manuel I (1510).

Como na regiom da Serra da Estrela, em Seia existe umha marcante presença judaica cujas origens se remontam tempos muito recuados difícil de situar, possivelmente desde os romanos ou sobretodo desde a dominaçom muçulmana. É possível que tivessem existido várias Judiarias no concelho, bastando para a constituiçom dumha comunidade que houvesse um mínimo de dez homens que constituíssem “minian”. Podia nom haver Sinagoga, mas poderia existir umha “Casa de Culto” com seu “Hekahl”, como é o caso de Santa Marinha.

A existência de inscrições cruciformes atribuídas aos cristãos-novos ou a Judeus convertidos à força na sua maioria (em hebraico Anussim) é profusamente visível em todo concelho, principalmente nas antigas Vilas Medievais onde ressaltam Santa Marinha, Valezim, Torroselo, Vila Cova à Coelheira, Casal, Carvalhal, Alvoco da Serra, São Romão, Loriga e Sandomil, mas também noutras povoações como Paranhos da Beira, Lajes, Vide, Póvoa Velha, Póvoa Nova, Vila Verde e Tourais, entre outras.


Com o fim de valorizar esta presença judaica e lançar as bases para a criaçom dum Eco-Museu da Herança Judaica, durante o primeiro semestre de 2013 a câmara municipal de Seia patrocinou um estudo de investigaçom e inventariaçom da herança judaica e os seus sinais no município.

O estudo, intitulado "Herança Judaica no Concelho de Seia-Serra da Estrela", foi realizado por umha equipa de trabalho integrada por Alberto Martinho, professor e sociólogo/antropólogo, por José Levy Domingos, historiador, jornalista, judeu membro da Comunidade Judaica Portuguesa e fundador da Associação de Amizade Portugal-Israel, e por Luiza Metzker Lyra, estudiosa e investigadora da presença judaica no interior de Portugal.

O estudo abrange todas as aldeias do concelho de Seia e consistiu no levantamento dos testemunhos e inscrições atribuídos aos Judeus e cristãos-novos, a fim de valorizar aquele património material (as casas, os sinais, o património monumental e artístico,...) e imaterial (as tradições orais, as histórias, os ditados populares,...). 

A inventariaçom de cerca de 580 cruciformes e outras marcas visíveis nas ombreiras das portas das casas tradicionalmente conhecidas e tidas como sendo de Judeus e cristãos-novos permitiu identificar casos de representações de candelabros, pentagramas e hexagramas, painéis de cruciformes associados a nomes e profissões. Assim sendo, só na Judiaria de Santa Marinha existem mais de 42 casas com marcas de presença judaica, superando em número à Judiaria de Troncoso. Para a inventariaçom do património imaterial foi importante a colaboraçom de Armando Ribeiro Vale, serralheiro, natural de Póvoa do Concelho, quem guarda em si memória dum passado judaico íntimo que quis desenvolver e dar a conhecer.

Alem disso, no campo da historiografia, os dados recolhidos no terreno foram complementados, na maioria dos casos, com a documentaçom associada aos processos do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisiçom referentes a cristãos-novos residentes no concelho e que se conservam no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

De resto, o estudo permitiu caracterizar a vida sócio-económica das povoações daquele tempo, permitindo concluir que a Judiaria de Seia estava ligada ao comércio e indústria, e incluía também proprietários agrícolas e mercadores, entre outros. Muitas das profissões estám documentadas nos registos dos processos da Inquisiçom referentes ao concelho.

Relativamente à localizaçom das judiarias de Seia, o conjunto de processos da Inquisiçom analisados abrangem cristãos-novos dispersos por toda a área do município, em quantidade curiosamente mais incidente nas localidades da encosta da serra da Estrela, onde a indústria da lã e fiaçom é dominante, mas também noutras. 

Mais recentemente, em janeiro de 2014, a Câmara Municipal de Seia propôs a adesom do município à Rede de Judiarias de Portugal.

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