quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

BETANÇOS

Vila galega na regiom das Marinhas com cerca de 13.500 habitantes.

Como se pode constatar na imagem, a cidade velha de Betanços assenta sobre um outeiro rodeado quase por completo pola confluência dos rios Mandeo e Mendo, construída sobre o Castro de Unta. Esta situaçom é devida a Afonso VIII, quem a deslocou em detrimento de Betanços-o-Velho. A sua importância e história durante a Idade Média está ligada à poderosa família Andrade e aos mosteiros das suas redondezas.

Betanços foi capital dumha das sete províncias do Reino da Galiza, sendo fulcral o papel do porto na sua economia, navegável nessa altura para embarcações de cabotagem, o que permitiu um comércio ativo e a importaçom e exportaçom de produtos. Teve umha significativa burguesia de profissionais artesãos e mercadores e umha comunidade judaica documentada desde 1474.

Hoje nom se conservam habitações dessa época, salvo duas casas góticas na Rua da Cerca, e mal ficam de outrora alguns restos de muros em andares térreos de edificações que foram alargadas sobre estes posteriormente, como é o caso de Alhariz, polo que resulta escassos os testemunhos materiais da presença judaica.

No entanto, poderia estar ligada à presença judaica a Estrela de David gravada na entrada da Igreja de Santa Maria do Açougue, e que dalgumha maneira pode ter servido de boas-vindas à igreja dos conversos e de aliciante para se converterem os Judeus moradores e aos comerciantes desta origem que iam ao mercado (açougue) que se celebrava na praça ao pé da igreja e que lhe deu nome.
Fonseca Moretón
Hexagrama gravado na Igreja de Sª. Mª do Açougue, Betanços.  CAEIRO
Outro indício da presença judaica poderia considerar-se a estátua jazente do doutor de Fernão Peres de Andrade, e que, pola sua barba, chapeu e roupa corresponde-se com a imagem do judeu dessa época, quer doutor, quer mercador. Em prol desta hipótese, defendida por Alfredo Erias, está que nessa altura a maioria dos médicos, físicos,... dos nobres e pessoas abastadas eram judeus devido à consideraçom que estes gozavam nesta profissom. 

Sabe-se que a Judiaria de Betanços pertencia ao grupo fiscal da Corunha, juntamente com Pontedeume e Ribadeu, tributando ao rei as quatro juntas. 
Localizaçom da Judiaria de Betanços. GoogleEarth
A Judiaria de Betanços situava-se no bairro denominado Cruz Verde e abrangia as ruas Cruz Verde, Rua dos Judeus e a ruela que liga a R. Cruz Verde com a Estrada de Castela (estrada N-VI).


Arruamentos do bairro judeu de Betanços. GoogleMaps
O mais característico deste bairro judeu é a sua intencionalidade de passar desapercebido para o resto da populaçom. De facto, para penetrar nele é preciso entrar pola porta dumha habitaçom que do exterior aparenta ser umha casa. Na aresta do lado direito desta porta de acesso existe umha concavidade igual às existentes nas portas das muralhas de Melgaço ou Ribadávia.


Rua Cruz Verde


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Porta do Passadiço Interior

Concavidade polida na porta de acesso à judiaria na R. da Cruz Verde de Betanços.
 E. Fonseca Moretón
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Esta porta comunica com um passadiço interior de antigo traçado na que existem várias casas dentro, bem como um par de peanhas nos muros que flanqueam o caminho, semelhantes às existentes em tantas habitações medievais situadas em judiarias, e que, possivelmente serviam para sustentar o candeeiro da Hanucá.


Passadiço interior


Este passadiço liga a R. da Cruz Verde com a Estrada de Castela na Judiaria de Betanços. As imagens dam conta da degradaçom produzida nesta zona.


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 Eva L. Parguinha

E. Fonseca Moretón
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Eva L. Parguinha

Eva L. Parguinha


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Eva L. Parguinha
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Este "falso ingresso" para umha habitaçom pode-se encontrar noutras judiarias galego-portuguesas, nomeadamente na Judiaria de Linhares da Beira.


Saída do Passadiço à Estrada de Castela
 Eva L. Parguinha
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Eva L. Parguinha
O local de saída do passadiço tem lugar no nº13 da Av. de Castela. GoogleMaps


Escadas que ligam com o passadiço
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Peanha na ruela de acesso à Judiaria de Betanços da R. dos Anjos.
Alfredo Erias

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Rua dos Judeus

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Eva L. Parguinha

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Os Judeus moravam nos arrabaldes da vila, deslocando-se para as ruas da zona alta, nomeadamente as ruas Cortadoria, Ferreiros, Peixaria, onde tinham os seus ofícios e negócios. Intramuros pode ter havido ruas judaicas, mormente a Rua Nova, onde se podem ver casas (mesmo do século XVIII) com marcas nas pedras de origem judaica.
Eva L. Parguinha
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Rua Nova
Eva L. Parguinha
Eva L. Parguinha
Eva L. Parguinha
Eva L. Parguinha
 Eva L. Parguinha

Nas ombreiras das portas dos números 6 e 9 da Rua das Arcadas da Fonte de Unta, na cidade velha de Betanços, -possivelmente dos séculos XV ou XVI- existem concavidades como as descritas noutras judiarias. 
Casa nas Arcadas da Fonte de Unta de Betanços, com concavidades na ombreira da porta.
Foto: Fonseca Moretón
A memória da Inquisiçom em Betanços está presente no nome da principal rua da Judiaria, a Rua da Cruz Verde, emblema da Inquisiçom, testemunhando destarte a atividade deste órgão repressor. O Santo Ofício instalou-se temporariamente no nº9 da Rua da Cerca de Betanços para realizar os seus "ofícios" aos Judeus conversos.
Prédio da Inquisiçom de Betanços. Foto: Eva L. Parguinha
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A "História da Cidade de Betanços" de M. Martínez Santiso (1892) refere que no século XVI existia em Betanços umha casa habitada por pessoas que praticavam o judaísmo em secreto localizada onde hoje se acha o cais da Ponte Velha e que posteriormente foi um castelo ou paço dos antepassados do conde de Vigo.

O Tribunal da Inquisiçom perseguiu aquela família, cujo chefe se chamava Miguel Henriques, que foi apresado e confiscados os seus bens. Apesar das medidas tomadas contra esta linhagem, o culto judaico prosseguiu entre várias pessoas no bairro da Ponte Velha até a extinçom dos seus praticantes.


Nos últimos anos a área de reabilitaçom urbana do Concelho de Betanços, consciente do estado de abandono do bairro judeu, implementou várias medidas (claramente insuficientes) a fim de recuperar esta parte ainda abandonada e proscrita da cidade.

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