quarta-feira, 9 de outubro de 2013

VISEU

Viseu é umha cidade portuguesa, capital do distrito homónimo, com 58.000 habitantes é a terceira maior e mais populosa cidade do Centro de Portugal, a seguir a Coimbra e Aveiro.

Com a conquista dos muçulmanos no século VIII e a derrocada do reino visigodo, seguiu-se um período em que Viseu mudou frequentemente de mãos, ora em poder dos cristãos, ora de mouros. 


De destacar a morte de D. Afonso V rei da Galécia-Leom no cerco a Viseu em 1027, morto por uma flecha oriunda da muralha árabe (cujos vestígios seguem a R. João Mendes, Largo de Santa Cristina e sobem pela R. Formosa). Finalmente, em 1058 a cidade é reconquistada por Fernando I Magno, rei de Galécia-Leom. Viseu foi várias vezes residência dos condes portucalenses, D. Teresa e D. Henrique de Borgonha, que, em 1123 lhe concedem um foral. O segundo foral foi-lhe concedido polo filho dos condes, D. Afonso Henriques em 1187, confirmado  por D. Afonso II em 1217.

Viseu constituiu, desde sempre, umha importante referência estratégica na regiom centro de Portugal, em resultado da sua condiçom de sede de bispado e de polo de atraçom do fluxo comercial que cruzava a cidade, ligando os portos e os núcleos urbanos do litoral ao interior do país e à fronteira com Castela.

Este estatuto de centro administrativo, eclesiástico e comercial, reforçado polas suas infraestruturas viárias e fluviais, atuou como fator de desenvolvimento e de fixaçom de populaçom, nomeadamente pessoas ligadas ao trato de mercadores, entre os quais se destaca os Judeus.

Os primeiros testemunhos de presença hebraica em Viseu remontam ao ano 1284, cuja comuna se desenvolveu e prosperou sobretodo a partir dos inícios do século XV, no momento em que Portugal recebia os Judeus expulsos dos reinos de Espanha e dava início o processo de reconstruçom da cidade após as destruições resultantes das guerras de libertaçom travadas com Castela.

A Sé de Viseu, na condiçom de detentora de grande parte da propriedade urbana funcionou como um dos principais interlocutores no relacionamento entre judeus e cristãos, exercendo umha forte influência na organizaçom sócio-espacial da comuna judaica, se tivermos em conta o facto do cabido ser o proprietário de muitas das casas e dos bens habitados e emprazados por judeus.

Na transiçom dos séculos XIII e XIV a primeira comunidade judaica de Viseu fixou-se no arrabalde da cidade, mais concretamente junto a Cimo de Vila e a S. Domingos, habitando um espaço urbano também ocupado pola populaçom cristã e situado numha zona em direçom a Coimbra.
Locais de fixaçom dos primeiros Judeus de Viseu (sécs. XIII-XIV)

Na altura da segunda metade do século XIV o bairro judeu de Viseu já abandonou o arrabalde, deslocando-se para o centro urbano, estabelecendo-se junto dos junto dos muros velhos da coluna da Sé, na centralidade da Praça (atual Pr. de Duarte) e estendendo-se para a Rua da Triparia, que ligava aquele largo à Rua das Tendas (junto das ruas denominadas agora de Rua do Hilário e Rua da Árvore) formando um quarteirom de elevada densidade populacional.

Assim sendo, em 1379 regista-se a primeira referência documental à sinagoga de Viseu, localizada nas imediações da Praça e da Triparia, numha das quelhas que partiam da rua das Tendas, muito afastada da Rua da Judiaria. 
Localizaçom da Judiaria Velha de Viseu (segunda metade séc. XIV)
Nos primeiros anos do séc. XV o bairro judeu localizaria-se nas imediações da Rua das Tendas, à par da torre dos sinos da Sé, no espaço que hoje corresponde à Rua da Senhora da Boa Morte.


R. da Judiaria Velha de Viseu (atual R. da Senhora da Boa Morte)



Entre 1415-18, no quadro das medidas segregacionistas imperantes, a judiaria desloca-se para umha zona a sul, situada entre a Praça e a Rua das Tendas, mas mais afastada do perímetro da Sé e que hoje corresponde à Rua da Senhora da Piedade. A razom desta nova mudança talvez se ache no crescimento da comunidade judia e na necessidade desta se arruar num espaço maior.


Localizaçom da Judiaria Nova de Viseu (séc. XV)

Polas informações disponíveis está-se perante umha comunidade judia numerosa e ativa, dedicada a diferentes atividades económicas que animavam a cidade, como se depreende da variedade de ofícios mecânicos a que muitos dos seus membros se dedicavam, com particular interesse nas actividades de ferreiro, gibiteiro, ourives, sapateiro, tintureiro e tecelão, em consentâneo com a nom menos importante ligaçom ao setor agrícola, principalmente na exploraçom de vinhas, lagares e alguns olivais, também estes de propriedade da catedral e situados na área periurbana da cidade, sobretudo em Jugueiros, mas também na Arroteia, em Ranhados, na Mouta, em Sás, na Alagoa e junto do rio Pavia.

Apesar do deslocamento operado, as judiarias de Viseu ocupavam parte significativa dumha artéria central da cidade, contígua às movimentadas ruas da Triparia e das Tendas.

Em 1444, a propósito da construçom da muralha, o concelho pede a D. Pedro o afastamento dos Judeus para umha zona excêntrica do espaço urbano cercado. Apesar da resposta afirmativa do regente, a deslocalizaçom nunca teve lugar.

A partir de 1455 produz-se o encerramenteo da rua da Judiaria, através da colocaçom de portas em cada umha das suas extremidades, umha delas, aliás situada na esquina da Rua da Triparia, junto a umha travessa que dava passagem para a Sé. O convívio nom era apreciado por grande parte dos cristãos, já que, em 1468, a pedido do concelho de Viseu, o rei D. Afonso V ordena que a comuna tape as portas e janelas que estavam abertas para a zona cristã.


R. da Judiaria Nova de Viseu (atual R. da Senhora da Piedade)

Após a aprovaçom do édito de expulsom, a partir de 1498 a até entom Rua da Judiaria abandona esse nome polo de Rua Nova, tendo muitos dos seus antigos moradores sido expulsos ou alvo de conversões forçadas.

Informações e imagens tiradas de MEDIEVALISTA, do Instituto de Estudos Medievais. Anísio Miguel de Sousa Saraiva.

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