quarta-feira, 22 de maio de 2013

A POLÍTICA DA URSS E DOS EUA NA FUNDAÇOM DE ISRAEL: 1947 (II)


Junho-agosto
A UNSCOP reune-se em Nova Iorque e visita a Palestina durante o mês de junho, reunindo-se com as organizações sionistas. O Alto Comité Árabe boicotou a Comissom, explicando que os direitos naturais dos árabes palestinianos "eram evidentes” e nom podiam ser objecto de investigaçom, mas sim mereciam ser reconhecidos com base nos princípios da Carta das Nações Unidas. Porém, a UNSCOP sim encontrou-se com a Liga Árabe, que mantinha a defesa dos direitos dos árabes palestinianos.

Em seguida, dirigiu-se a Genebra, donde enviou umha subcomissom para investigar os campos de refugiados na Alemanha e na Áustria. A subcomissom informou que a maioria dos refugiados entrevistados declarou que nom estaria pronta a se estabelecer noutro país que nom fosse a Palestina. Avaliou que a razom disso era o temor ao antissemitismo europeu e o efeito da propaganda sionista. Nalguns centros de refugiados era evidente a propaganda sionista influenciando os refugiados a reivindicar a Palestina. Consoante as informações de Dr. Sommerfelt, representante da Comissom Preparatória da Organizaçom Internacional de Refugiados, a "Agência Judaica fazia umha propaganda considerável nos campos de pessoas desalojadas, com o objetivo de induzir os judeus a emigrarem para Palestina". No entanto, afirmou que "os que permaneciam nos campos aceitariam dirigir-se a lugares distintos, se lhes oferecessem tal oportunidade".

11 de julho
O navio Exodus abandona o porto de Sète (França) rumo à Palestina cargando 4.515 refugiados judeus.

18 de julho
Quando o Exodus estava aportando em Gaza é interceptado polas forças britânicas e levado para Haifa. Embora até entom a política britânica tinha sido deportar refugiados ilegais apresados para campos de detençom instalados no Chipre, o ministro dosnegócios estrangeiros britânico, Ernest Bevin, decidiu empregar umha nova tática para desencorajar a imigraçom clandestina: os refugiados seriam enviados de volta ao seu ponto de partida original. De acordo com esta política, os passageiros do Exodus foram reunidos em três navios-prisom britânicos e enviados de volta para Sete.

Alguns membros da UNSCOP, que estavam a acompanhar o desenvolvimento do Exodus, estám presentes no porto de Haifa quando os imigrantes judeus som removidos à força do navio e deportados de volta para a Europa. O testemunho ocular do reverendo John Stanley Grauel, que estava no Exodus, teria convencido à UNSCOP de reverter umha decisom anterior.

Mais tarde, o reverendo J. Stanley deu um depoimento perante a UNSCOP. O seu testemunho em primeira mão, foi extremamente eficaz em provocar simpatia e compreensom pola causa das restrições à imigraçom de refugiados judeus para a Palestina. Posteriormente Golda Meir referiu-se ao este testemunho como o primeiro apelo por um "padre, um gentio perfeitamente digno, a priori, umha testemunha nom judia tinha de ser acreditado".

29 de julho
À sua chegada ao porto de Sète, os refugiados rejeitam abandonar os navios-prisom ficando lá encerrados até 22 de agosto.

Julho
O chefe do ramo europeu da Agência Judaica, Dr. Moshe Sneh (um destacado membro do centrista Partido Sionista Geral que mais tarde se tornaria no chefe do Partido Comunista de Israel) faz umha visita para a Checoslováquia, ficando surpreso com a simpatia para com o sionismo e polo interesse na exportaçom de armamento por parte desse Governo. Sneh reuniu-se com o vice-chanceler Vladimir Clementis, que sucedeu o nom-comunista e definitivamente pró-sionista Jan Masaryk.

Sneh e Clementis discutiram a possibilidade da disposiçom de armamento checo para o Estado judeu. Masaryk deu a sua aprovaçom, mas ainda havia alguns obstáculos: antes de mais, ainda nom estava claro que curso levaria a questom Palestina na ONU, pois o Governo checo apenas estava disposto a vender a umha naçom soberana.

Mas, durante o verão, os diplomatas soviéticos enviaram alguns sinais positivos aos representantes sionistas. Assim sendo, o primeiro secretário da embaixada soviética em Washington, M. Vavilov afirmou a E. Epstein que o governo soviético estava bem ciente da estrutura social capitalista do Yishuv, mas acreditava que os judeus estavam a construir umha comunidade pacífica, democrática e progressista na Palestina. Ele também enfatizou que o governo soviético estava satisfeito com a reaçom dos judeus em todo o mundo ao discurso de Gromyko. Ao igual que durante a Segunda Guerra mundial, Moscovo esperava ganhar influência na opiniom pública judaica mundial, especialmente na judria americana, num momento de tensom crescente entre o Leste e Ocidente iria levar à divisom do mundo em dous grandes blocos.


31 de agosto
A UNSCOP dá a conhecer o seu relatório expondo a tese judia e a árabe:

A tese judaica defendia o estabelecimento dum Estado judeu na Palestina. Segundo esta tese, "a fundaçom do Estado judeu e a imigraçom sem restrições estám ligadas indissoluvelmente". Por um lado, defendeu que o Estado judeu era necessário para dar abrigo aos judeus refugiados da Europa. Por outro lado, argumentou que um Estado judeu teria necessidade urgente dos imigrantes para compensar a diferença numérica em relaçom à populaçom árabe. Os sionistas reconheciam na sua tese a "dificuldade de transformar toda a Palestina num Estado judeu, onde os judeus seriam apenas umha minoria, ou de fundar um Estado judeu numha parte da Palestina, em que, na melhor das hipóteses, teriam quando muito, umha pequena preponderância. Portanto, a tese judia insiste no direito à imigraçom por razões tanto políticas quanto humanitárias". A tese judia fundamentou-se nos direitos que conquistou polos termos do Mandato britânico que continha a Declaraçom de Balfour.

A tese árabe defendia a independência imediata da Palestina, reivindicando o direito "natural" da maioria árabe de "permanecer na posse indiscutível do seu país, posto que está e tem estado durante muitos séculos em posse daquela terra". Fundamentaram a sua tese nos direitos "naturais" do povo que habitou a Palestina, sem interrupçom, desde os primeiros tempos históricos e nos direitos "adquiridos" através dos acordos feitos durante a Primeira Guerra mundial, considerando que esses compromissos reconheciam os direitos políticos dos árabes palestinianos, os quais a Gram Bretanha teria a obrigaçom contratual de aceitar e defender, e que, até o momento, nom cumprira. Os árabes também declararam considerar o Mandato, o qual incorporou a Declaraçom de Balfour, ilegal, negando-se a reconhecer a sua validade.

Além dos seus relatórios, a UNSCOP devia emitir as suas recomendações para a soluçom do problema. Por unanimidade recomenda que a Gram Bretanha devia dar cabo do seu mandato na Palestina e conceder-lhe a independência na data mais próxima possível. Porém, nom conseguiu chegar a um consenso quanto à soluçom territorial da questom e umha maioria de 7 membros (Canadá, Checoslováquia, Guatemala, Países Baixos, Peru, Suécia e Uruguai) contra 3 (Índia, Irám e Jugoslávia) recomendou que a Palestina tinha de ser partilhada num Estado judeu e num Estado árabe. A Austrália nom aprovou nengumha das duas propostas.

3 de setembro
No início do segundo período de sessões, a Assembleia Geral da ONU converteu-se em comissom ad hoc (com presença de todos os estados membros), a fim de examinar as duas propostas da UNSCOP.

A proposta apresentada pola maioria dos países da UNSCOP defendia, em síntese, a partiçom da Palestina num Estado árabe independente e um Estado judeu independente, com unidade económica, além da internacionalizaçom de Jerusalém após um período de transiçom de dous anos. De acordo com esta proposta, umha parte da populaçom árabe deveria permanecer dentro do Estado judeu (45% de 905.000 habitantes) e umha parte da populaçom judia dentro do Estado árabe (1,36% de 735.000 habitantes), por ser inviável transferir milhares de pessoas espalhadas por todo o território. A nacionalidade e cidadania seriam árabe ou judia, de acordo com o local de residência.

A proposta da uniom económica era tida como fundamental para o Plano da Partiçom devido ao facto de 60% da melhor parte do território da Palestina estaria sob controle do Estado judeu.

A proposta apresentada pola minoria dos integrantes da UNSCOP recomendava a fundaçom dum Estado federal da Palestina independente, após um período de transiçom de no máximo três anos, e que esse Estado federal se compusesse dum Estado árabe e um Estado judeu, havendo umha só nacionalidade e cidadania palestiniana concedidas aos árabes, judeus (30% da populaçom) e outras pessoas. Jerusalém deveria ser a capital do Estado federal, compreendendo duas municipalidades separadas, umha incluindo os setores árabes (105.000 habitantes), mesmo a parte interna aos muros, e outra incluindo os setores judeus (100.000 habitantes).

Foram intensos os protestos árabes quanto à partilha e também os protestos sionistas relativamente a um Estado federal. No final do debate geral o presidente da Assembleia, o brasileiro Oswaldo Aranha, propôs o estabelecimento de duas subcomissões para informarem sobre as propostas à Comissom ad hoc e umha terceira subcomissom para promover a conciliaçom entre as posições árabe e judia. O representante da Síria propôs a criaçom dumha outra subcomissom "composta por juristas que tratariam da questom da competência da Assembleia Geral para adoptar e aplicar umha decisom, bem como o aspecto jurídico do Mandato. No caso de o informe de tal comissom nom ser satisfatório, poderia considerar-se a transferência de todo o assunto para a Corte Internacional de Justiça". Porém, o presidente descartou essa proposta.

Novamente foram ouvidos a Agência Judaica e o Alto Comité Árabe. Os líderes defensores da proposta da maioria da UNSCOP, favorável às teses sionistas, foram Garcia Granados, da Guatemala, e Rodríguez Fabregat, do Uruguai.

9 de setembro
Os três navios-prisom com os refugiados do Exodus aportam em Hamburgo. Os refugiados a bordo do Empire Rival deixaram o navio rapidamente, porque fora deixada umha bomba no seu porão. Os outros dous carregamentos de pessoas tentaram permanecer a bordo dos navios, resistindo a qualquer tentativa de deslocá-los. Eventualmente, todos os três navios foram esvaziados de sua carga humana e entregue para os braços dos alemães que os internaram em campos de refugiados.

16 de setembro
Numha reuniom entre representantes da Agência Judaica e Azzam Pasha, o secretário da Liga Árabe, este último disse: "O mundo árabe nom está disposto a fazer concessões. É possível, senhor Horowitz, que o seu plano seja racional e lógico, mas o destino das nações nom é decidido nos critérios da lógica racional. As nações nunca concedem, combatem. Os senhores nada vam obter pola paz ou o compromisso. Talvez obtenham algo, mas apenas pola força das armas. Vamos tentar vencer-vos. Eu nom tenho a certeza de que o consigamos, mas vamos tentar. Nós fomos capazes de livrar-nos dos cruzados, mas, por outro lado, perdemos a Espanha e a Pérsia. Talvez perdamos a Palestina. Mas é tarde de mais para falar em soluções pacíficas”.

17 de setembro
O Secretário de Estado George Marshall, num discurso nas Nações Unidas, indica que os Estados Unidos estám relutantes em endossar a partiçom da Palestina.

22 de setembro
Loy Henderson, diretor da Agência para o Próximo Oriente do Departamento de Estado, encaminha um memorando para o Secretário de Estado G. Marshal no qual ele argumenta contra a defesa por parte dos EUA da proposta da Organizaçom das Nações Unidas para dividir a Palestina.

30 de setembro
Nessa altura Epstein pediu a um membro da delegaçom soviética na ONU, S. Tsarapkin, se Moscovo iria votar na soluçom binacional apoiada pola minoria da UNSCOP (em particular a teor da postura da Jugoslávia). "Nom necessariamente", respondeu Tsarapkin. Na verdade, a decisom tinha sido tomada no começo de abril, tal como o ministro Molotov declarou ao diplomata Andrei Vishinski em 30 de setembro de 1947. Ele instruiu o seu vice-ministro dos Negócios Estrangeiros para "nom levantar qualquer objeçom à opiniom da maioria do Comitê sobre a partiçom da Palestina" e "nom se opor às recomendações aprovadas por unanimidade polo Comitê sobre o mandato, a concessom da independência para a Palestina". No mesmo dia, Molotov enviou mais instruções num telegrama codificado: Vishinski deveria "apoiar a opiniom da maioria (da UNSCOP), o que corresponde à nossa opiniom básica sobre esta questom", e devia levar em conta que Gromyko tinha sugerido a criaçom dum Estado binacional apenas para "considerações táticas, já que nom queríamos tomar a iniciativa na criaçom de um Estado judeu." O telegrama do Molotov deixa claro que a decisom soviética para apoiar a criaçom dum Estado judeu tinha sido tomada no final do abril 1947. No entanto, nom é possível saber se Estaline e Molotov tomou essa decisom antes. O aparelho do MID tinha sido informado disso alguns dias antes do discurso de Gromyko, obrigando a reconsiderar quase completamente a sua linha anterior.

Fontes
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