quinta-feira, 23 de maio de 2013

A POLÍTICA DA URSS E DOS EUA NA FUNDAÇOM DE ISRAEL: 1947 (III)


10 de outubro
Altos funcionários norte-americanos, num memorando intitulado O problema da Palestina, argumentam que a partiçom dessa colónia britânica num Estado árabe e num Estado judeu permitiria que a Uniom Soviética removesse os Estados Unidos e a Gram Bretanha na regiom e colocaria em risco o acesso dos EUA para o petróleo do Próximo Oriente.

11 de outubro
Herschel V Johnson, vice-representante dos EUA no Conselho de Segurança das Nações Unidas e representante americano na Comissom ad hoc, informa oficialmente o apoio dos EUA ao plano da maioria da UNSCOP que defende a partilha e a imigraçom judia.

13 de Outubro
A URSS confirma o seu apoio ao plano da maioria da UNSCOP através de Semyon K. Tsarapkin, vice-representante da URSS no Conselho de Segurança da ONU.

15 de outubro
Molotov instrui Vishinski para consultar os judeus sobre "todas as questões importantes relativamente à Palestina, em particular em Jerusalém" e "a reduçom do período de transiçom, no qual o Reino Unido nom deve ser deixado no comando", transferindo essa autoridade para o Conselho de Segurança da ONU. 

Além disso, transmite a ordem de que a delegaçom soviética deve apoiar a proposta uruguaia para permitir a emigraçom para a Palestina de 30 mil crianças judias, bem como umha quota para os seus pais que estavam nos CPD, e de que se vote afirmativamente a proposta da Colômbia permitindo a imigraçom de 150 mil judeus. A delegaçom soviética também devia apoiar a proposta jugoslava de que todos os refugiados judeus nos campos de concentraçom da ilha de Chipre deviam ser admitidos imediatamente na Palestina, independentemente de quotas. 

Doravante, a Uniom Soviética tornou-se num ardente defensor da causa sionista.

17 de Outubro
O Presidente Truman escreve o senador Claude Pepper: "Recebi cerca de 35.000 postais dos correios e propaganda dos judeus deste país enquanto esta matéria [a questom da partiçom da Palestina estava a ser considerada pola UNSCOP entre maio e agosto] estava pendente. Eu coloquei numha pilha e risquei um fósforo a todo isso -eu nunca olhei para umha só dessas cartas porque eu sentia que o UNSCOP estava a agir cumha capacidade judicial e nom devia ser interferido ".

No período 1947-48 a Casa Branca recebe 48.600 telegramas, 790.575 postais e 81.200 correios sobre a questom da Palestina.


26 de Outubro
O ministro Molotov envia a Estaline um memorando de 10 pontos, proposto por Vishinski, sobre o período de transiçom entre o fim do Mandato britânico e a partiçom da Palestina. Nele Vyshinki defende umha retirada apressada dos britânicos da Palestina. Segundo ele, o mandato deve finalizar a 1 de janeiro de 1948 e ser substituído por umha Comissom Especial do Conselho de Segurança das Nações Unidas encarregado de estabelecer as fronteiras dos futuros Estados árabe e judeu o estabelecimento de Governos Provisórios. Esta parece umha proposta táctica, já que os EUA nunca teriam aceitado umha responsabilidade compartilhada na Palestina com a Uniom Soviética. Com esta Comissom Especial Moscovo visa umha maneira de estar diretamente envolvido na questom palestina. De acordo com Vishinski, todas essas propostas estavam de acordo com a Agência Judaica, mostrando-se a estreita colaboraçom em que estavam engajados a URSS e o movimento sionista.

Outubro-Novembro
Os EUA, visto que o território reservado para o Estado judeu era demasiado grande e provocaria umha reaçom muito forte dos árabes, propõem umha alteraçom do território proposto, assegurando Jaffa para o Estado árabe como um enclave no território judeu. Os EUA também decidiram incluir metade de Neguev, incluindo Aqaba, ao território árabe. Destarte foi decidido que 500.000 acres de Neguev ficariam no Estado árabe, enquanto o restante da área, incluindo Aqaba, ficaria no Estado judeu.

Novembro 1947
Umha subcomissom da UNSCOP estabelece umha agenda para a retirada britânica da Palestina.

17 de novembro
Tem lugar umha entrevista secreta entre Golda Meir, nova chefe político da Agência Judaica, e Abdallah, emir da Transjordânia, no qual este último confirma a sua amizade com a causa sionista e se mostra favorável à partilha, afirmando que se a ONU o votasse, ele iria anexar o território acordado aos árabes, acordando “umha divisom que nom o humilhe aos olhos do mundo árabe”.

19 de novembro
Num encontro com o Presidente Truman, Chaim Weizmann defende que a regiom do Negev é de grande importância para o futuro Estado judeu.

24 de novembro
As duas subcomissões, depois de se reunirem por quatro semanas, apresentam à Comissom ad hoc os seus informes, iniciando-se assim as votações das resoluções.

A subcomissom nº2, cujas resoluções foram submetidas à votaçom antes das resoluções da subcomissom nº1, defende a posiçom da minoria da UNSCOP, favorável aos árabes.

O primeiro projeto de resoluçom, que impugnava a competência da ONU para decidir a Partiçom e propunha pedir à Corte Internacional de Justiça para julgar tal competência, é chumbada.

O segundo, que defendia que os Estados membros da ONU recebessem nos seus territórios os judeus refugiados da Europa, também é chumbado.

O terceiro projeto de resoluçom que propunha o estabelecimento dumha Palestina unificada independente também é chumbado.

O Secretário de Estado, George Marshal, escreve o Subsecretário de Estado, Robert Lovett, para o informar que o ministro dos negócios estrangeiros britânico, o trabalhista Ernest Bevin, lhe disse que a inteligência britânica tinha detectado a presença de muitos comunistas entre os grupos judeus que se moviam ilegalmente dos estados balcânicos para a Palestina.

25 de novembro
É votado o informe da subcomissom nº1, consistente basicamente na proposta apresentada pola maioria da UNSCOP em prol da partiçom, da imigraçom e de Jerusalém sob administraçom internacional. As emendas diziam respeito ao acréscimo de Jaffa e parte do deserto do Negev para o Estado árabe. Foi aprovada por 25 votos a favor, 13 contra e 17 abstenções.

Votos a favor: Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Costa Rica, Checoslováquia, Chile, Dinamarca, Equador, EUA, Guatemala, Islândia, Nicarágua, Noruega, Panamá, Peru, Polónia, República Dominicana, RSS de Bielorrússia, RSS da Ucránia, Suécia URSS, Uniom Sul-Africana, Uruguai e Venezuela.

Votos contra a partiçom: Afeganistám, Arábia Saudita, Cuba, Egito, Índia, Irám, Iraque, Líbano, Paquistám, Siám, Síria, Turquia e Iémen.

Abstenções: Argentina, Bélgica, Colômbia, China, El Salvador, Etiópia, França, Grécia, Haiti, Honduras, Libéria, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Países Baixo, Reino Unido e Jugoslávia.

Ausências: Filipinas e Paraguai.

Polo facto de a Assembleia estar constituída em Comissom ad hoc nom era necessária umha maioria de dous terços, e a proposta de partiçom foi aprovada e recomendada à Assembleia Geral. A votaçom na Assembleia Geral tinha o objetivo apenas de ratificar o que fora decidido na Comissom ad hoc, mas no plenário era precisa umha maioria de dous terços.


26 de novembro
Relativamente à posiçom árabe, o representante soviético na Assembleia, A. Gromyko, garante aos árabes que a Uniom Soviética iria continuar a apoiar os seus esforços "para se libertarem dos últimos grilhões da dependência colonial", expressando a sua convicçom de que, apesar das suas dúvidas momentâneas, os árabes e os Estados árabes "iriam olhar, em mais dumha ocasiom, em direçom a Moscovo "

Durante o debate no plenário o presidente da Assembleia, o brasileiro Oswaldo Aranha, decide adiar a sessom, argumentando que o tempo nom seria suficiente para completar a lista de oradores.

27 de novembro
Dia de Açom de Graças, a Assembleia nom é convocada.

28 de novembro
Nom é dito nada de novo na sessom da Assembleia Geral. O embaixador da França solicita mais um dia de adiamento, sendo aceite polo presidente O. Aranha.

29 de novembro
Os delegados árabes apresentam umha nova proposta defendendo umha Palestina unitária que garantisse a autonomia local para a minoria judia. Porém, nom é discutido porque os representantes da URSS (Gromyko) e dos EUA (Johnson) opõem-se a qualquer outra protelaçom.

A proposta definitiva da partiçom (denominada Resoluçom 181 da Assembleia Geral da ONU) é colocada em votaçom e aprovada por 33 votos a favor, 13 contra, 10 abstenções e umha ausência.

Votos a favor da partiçom: Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Canadá, Costa Rica, Checoslováquia, Dinamarca, Equador, Estados Unidos da América, Filipinas, França, Guatemala, Haiti, Islândia, Libéria, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Panamá, Paraguai, Peru, Bolívia, República Dominicana, RSS da Bielorrúsia, RSS da Ucrânia, Suécia, URSS, Uniom Sul-Africana, Uruguai e Venezuela.

Votos contra a partiçom: Afeganistám, Arábia Saudita, Cuba, Egito, Grécia, Índia, Irám, Iraque, Líbano, Paquistám, Síria, Turquia e Iémen.

Abstenções: Argentina, Colômbia, Chile, China, El Salvador, Etiópia, Honduras, México, Reino Unido e Jugoslávia.

Enquanto a URSS assegurou os votos da Bielorrúsia, Ucrânia, Polónia e Checoslováquia, necessários para a maioria de dous terços requeridos para aprovar a resoluçom, a diplomacia dos EUA nada fez para influenciar os votos dos estados clientes dos EUA a votar em favor da partiçom com a consequência e que muitos deles votaram contra (por exemplo Cuba ou Grécia) ou se abstiveram (Argentina, Colômbia, Chile, El Salvador, Honduras ou México).

Nos dias anteriores à votaçom as lideranças sionistas tentaram convencer os delegados da Assembleia Geral e assegurar os votos na Assembleia que permitissem a aprovaçom da partiçom da Palestina que levasse ao Estado judeu. À frente da delegaçom judia na Assembleia da ONU estava Gideon Rafael, pertencente ao departamento de política exterior da Agência Judaica.

Entom foi fulcral a assistência de qualquer judeu influente, sionista ou nom sionista.

O proeminente economista e consultor Robert R. Nathan, que foi chefe do comité de planeamento da Mesa da Produçom de Guerra, teve um papel importante no convencimento de vários delegados dos países latino-americanos e da Libéria.

Outro nome de fundamental importância nas negociações de convencimento foi García Granados um associado do presidente de esquerda da Guatemala, Juan José Arevalo.

Até 26 senadores pró-sionistas encabeçados por Wagner enviaram um telegrama para pressionar o governo das Filipinas a que  votassem em prol da partiçom.

Leon Blum, o primeiro socialista a ocupar o cargo de primeiro-ministro na França, escreveu-lhe umha carta ao ministro francês dos Negócios Estrangeiros, M. Georges Bidault, para demandar um voto favorável da França para a criaçom do Estado judeu.

Mesmo os sionistas contaram com a ajuda de Albert Einstein, quem escreveu várias cartas ao primeiro ministro da Índia, J. Nehru, para conseguir o apoio desse país que vinha de se libertar do Império britânico.

Segundo Gideon Rafael o elevado envolvimento da URSS na soluçom da questom judaica através da criaçom dum Estado judeu, para além da geoestratégia política, existe “um sentimento de identificaçom com o que os judeus tinham experimentado na guerra. Éramos umha espécie de companheiros de sofrimento. [...] Vinte milhões de russos morreram na guerra e um terço do povo judeu. Nas deliberações da Assembléia Geral, na primavera, Andrey Gromyko (ministro dos Negócios Estrangeiros soviético) tinha saído com umha declaraçom sensacional. Ele disse que seis milhões de judeus foram mortos pelos carniceiros nazistas e que o povo judeu tinha umha associaçom de longa data com a Palestina e o direito a um estatuto independente. Acho que foi um sentimento autêntico. Era política e ajudou a mudar o curso da história”.

A Resoluçom 181 da Assembleia Geral da ONU divide o território do Mandato da Palestina em oito partes: três para o Estado judeu e três para o Estado árabe. A sétima, Jaffa, constituiria um enclave árabe em território judeu. A oitava seria Jerusalém, sob regime internacional especial.

A Gram Bretanha deveria retirar-se antes de 1 de agosto de 1948 e colocar um porto à disposiçom do Estado judeu antes de 1 de fevereiro de 1948 para permitir a chegada dos refugiados.

Durante o período de transiçom, que iniciaria imediatamente, a ONU encarregar-se-ia progressivamente da administraçom de todo o território, sendo que o poder seria transferido aos novos Estados, no máximo, em outubro de 1948. Os dous Estados estariam associados numha uniom económica.

Fontes
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